ENTENDENDO QUANDO A TEOLOGIA SE TORNA EM FANATISMO
SILVA,
Elisete Aparecida da[1]
A problemática da moral faz parte da vida cotidiana desde o nascimento.
O primeiro conceito moral com o qual a pessoa tem contato, ainda na infância,
advém do uso da palavra não. Ao ter de lidar com a negação a criança passa a
formular conceitos e padrões de conduta que podem ou não ser praticados no dia
a dia, nesse contexto a Teologia apresenta os diferentes modelos de reflexão da
moral e examina os aspectos fortes e os aspectos frágeis de cada um deles. O objetivo deste e-book é identificar quando a religião faz
mal para a pessoa, analisando o relatório de um jovem e sua devoção religiosa. O
desenvolvimento da pesquisa referente a este artigo acontece a partir do viés
qualitativo. Para sua realização, foram consultadas referências bibliográficas
da área da Religião e a Metodologia do Trabalho Científico. Conclui-se, que existe um certo nível de
reciprocidade e mutualidade entre religião e cultura, por meio do qual se
manipulam arbitrariamente algumas necessidades e satisfações do indivíduo,
utilizando-as como prêmios concedidos em troca de obediência. Porém, podemos
afirmar com segurança que a descoberta de Lutero da justificação pela fé
ocorreu, por exemplo, sob condições individuais, contextualizadas em sua
história, cultura e língua – sem, ao mesmo tempo, estar confinada a essas
condições, e no contexto do jovem não é viável ter uma atitude de fanatismo,
anulando-se a si próprio.
Palavras - chave: Teologia. Reflexão. Fanatismo.
As tradições religiosas ou
religiões, como sistemas organizados a partir de uma estrutura hierárquica,
conjunto de doutrinas, ritos, símbolos e normas éticas, podem ser dogmáticas,
mas também abertas e flexíveis. Sua função básica, pelo menos no plano ideal, é
contribuir para um processo civilizador da humanidade, orientar as pessoas em
busca e relação com o sagrado, dar respostas às questões existenciais e
sustentação à existência da comunidade por meio de preceitos éticos.
O sistema ético do
absolutismo conflitante parte da premissa de que neste mundo os problemas e os
sofrimentos são reais e, portanto, os conflitos morais são reais. Mesmo assim,
o ser humano é responsável pelos deveres de ambos ou mais princípios morais em
conflito. Não importa que certos princípios morais estejam em conflito, o ser
humano terá de fazer algo a respeito dos dois, pois a lei divina não pode ser
quebrada sem que haja culpa.
O absolutismo conflitante
não é próprio apenas do cristianismo evangélico moderno. O existencialismo (o
ser humano precisa decidir sua vida e não depende de nada e de ninguém para
isso) e mesmo o pensamento popular também esboçam atitudes de absolutismo
conflitante em suas éticas. Quem já não ouviu ou proferiu a frase? “Por fim,
optei pelo mal menor”.
Martinho Lutero (1483-1546)
defendia a postura do absolutismo conflitante. Baseado no que ele denominou
doutrina da depravação (o ser humano tem a tendência intrínseca para o mal), o
reformador ensinava que o homem vive em dois reinos simultaneamente: o reino
deste mundo e o Reino de Deus. Enquanto vive em ambos, é responsável pelo
cumprimento das leis dos dois mundos. E como esses reinos estão em perpétuo
conflito, também o ser humano viverá assim. Portanto, este se chocará
constantemente com princípios conflitantes e com a obrigação de cumprir ao
mesmo tempo as normas de ambos os mundos, o profano e o sagrado. Quando tais princípios
em conflito levam ao pecado, é necessário recorrer sempre à expiação na cruz de
Cristo para obter o perdão.
A partir do relato de Urquhart (2002), vejamos o que é
um jovem que vive no estabelecimento formativo Focolare. Trata-se de um
indivíduo que se sente chamado a consagrar a sua vida a Deus, como leigo
participante de um grupo eclesial específico e que deve se preparar para
assumir essa condição. O centro Focolare de Loppiano, Itália, é o local onde
essa preparação é efetuada. O candidato se transforma em habitante de um mundo
especial e peculiar, onde não apenas recebe uma formação específica, mas também
assume uma condição humana muito particular: a de um indivíduo internado.
Na sua condição de internado, mesmo voluntário, o
novato do grupo Focolare partilha de condições similares, sob vários aspectos,
às dos internados num hospital psiquiátrico, numa prisão ou num colégio
interno. A dinâmica da vida institucional nesses estabelecimentos apresenta
pontos de impressionante coincidência. Será necessário ressaltar oportunamente
suas diferenças também. O próprio internato Focolare pode ser visto como um
colégio interno (BENELLI, 2002, 2003a, 2003b), mas com objetivos mais específicos.
O movimento Focolare tem uma escola que recebe novatos
já iniciados e que aderiram ao grupo em Loppiano, próximo a Florença, na
Itália. Podemos dizer que ali os noviços (novatos) do movimento realizam seu
noviciado (período preparatório à consagração religiosa, que culmina na emissão
de votos religiosos e integração a determinada instituição religiosa). Trata-se
de uma aldeia modelo do Focolare. Depois de dois anos ali, um novo membro
permanente devidamente preparado e qualificado, por meio de uma consagração
religiosa ao assumir os votos de pobreza, castidade e obediência, pode ser
enviado para qualquer parte do mundo para missionar e difundir o movimento.
Essa experiência e a profissão dos três votos normalmente significam a inserção
permanente do indivíduo no grupo religioso. Mas no caso das instituições com
características totalitárias esse processo de inserção parece estar longe de
ser linear e pacífico.
A ideia de
dedicar minha vida a Deus, trabalhando para Ele, me enchia de uma espécie de
alegria e de sensação de aventura. Mas eu finalmente tinha perdido meu senso de
orientação e também o controle de minha vida. Não era capaz de compreender ou
analisar o que acontecera comigo em Loppiano, e só muito mais tarde iria
conseguir: eu era a própria aniquilação e absorção de uma personalidade
individual pela instituição. Quando começou esse terrível e deliberado processo
de destruição, eu me senti mergulhar inexoravelmente no período mais negro de
toda a minha vida (URQUHART, 2002).
O isolamento destaca-se como um elemento fundamental
do processo formativo. Loppiano era utilizado para isolar totalmente os
recrutas iniciados das influências do mundo exterior, para serem mais bem
observados e modelados de acordo com as crenças, ideias, normas, hábitos e
comportamentos prescritos pelo movimento.
O isolamento
era total. Nós estávamos a cerca de uma milha da civilização. A população local
era constituída de velhos camponeses analfabetos. Durante os dois anos que ali
passamos, não assistimos a um programa de televisão sequer, nunca deitamos os
olhos sobre um jornal. Desse modo, não sabíamos praticamente nada do que estava
acontecendo no mundo lá fora, e, após algum tempo, isso parecia não ter a menor
importância. ... Não havia livros, a não ser os escritos de Chiara Lubich e
alguns outros sobre espiritualidade, publicados pela Città Nuova, a editora
italiana do movimento. De qualquer modo, a leitura era desaprovada.
Considerava-se estranho que alguém pudesse passar o tempo fazendo qualquer
coisa sozinho, mas especialmente lendo. Durante todo o tempo que lá fiquei, li
apenas dois livros (URQUHART, 2002).
Não havia rádio, televisão, filmes nem música
"profanos", nem dias de folga ou sequer dinheiro para distrair ou
contaminar os focolares em formação. Eram raras as saídas de Loppiano. O corte
era radical para melhor efetivar o processo de ressocialização. Todos os anos
havia a admissão de uns cinqüenta homens e mulheres, que eram segregados,
mantidos à distância uns dos outros. Esses futuros líderes do movimento vinham
de todos os países do mundo. A maioria deles tinha apenas uma idéia muito vaga
do que se podia esperar - Loppiano não tinha nenhum documento escrito sobre as
atividades do movimento (URQUHART, 2002).
O isolamento
era para garantir que cada canto de nossas vidas estivesse sob completo
controle de nossos superiores. Nossas mentes, atitudes e crenças tinham que ser
radicalmente mudadas não através de um processo de aprendizado gradual ou do
crescimento progressivo de uma convicção pessoal, mas através de um fluxo
contínuo de uma torrente de conceitos e noções ao qual nós nos referíamos
frequentemente, de brincadeira, como sendo uma verdadeira lavagem cerebral
(URQUHART, 2002).
A tendência anti-intelectual
(LIBÂNIO, 2003, p.106) do movimento se manifestava agressivamente em Loppiano.
Candidatos de notória orientação ou formação intelectual eram sempre destinados
para a realização de trabalho braçal e servil.
A tendência anti-intelectual (LIBÂNIO, 2003, p.106) do
movimento se manifestava agressivamente em Loppiano. Candidatos de notória
orientação ou formação intelectual eram sempre destinados para a realização de
trabalho braçal e servil.
Mas o ataque
à razão era levado a extremos: eles nos impunham uma condenação total do
pensamento. "Vocês pensam demais", era a resposta que recebíamos
quando fazíamos perguntas. "Não pensem!", diziam-nos duramente nossos
líderes. "Parem de raciocinar." Ou, de maneira mais radical ainda:
"Corte sua cabeça fora." Quando alguém levantava algum problema a
respeito do gênero de vida ou das ideias com que eles nos bombardeavam, recebia
logo como resposta que "era um ser fechado", "complicado",
"um criador de problemas para si próprio" ou mesmo "vítima de
algum complexo". O termo "mentalidade" era um dos motes, e
aqueles que não estavam de acordo com o movimento eram acusados de ter uma
mentalidade "velha". Eles nos aconselhavam a não tentar entender, mas
a agir como eles mandavam, para "nos lançarmos para dentro da vida"
em Loppiano, que a compreensão viria depois (sic) (Urquhart, 2002, p.61).
Em Loppiano, o trabalho era exclusivamente manual. Os
noviços trabalhavam em uma fábrica de caminhões ou em empresas menores que
fabricavam tapetes e artesanato em madeira. Os noviços também tinham que
participar de campanhas para vender de porta em porta a revista do movimento
(URQUHART, 2002, p.64). Havia um controle exaustivo de todas as atividades e da
rotina de cada um, caracterizando intenso processo de arregimentação (GOFFMAN,
1987, p.44), que indica a obrigação de executar a atividade regulada em
uníssono com grupos de outros recrutas; e ainda um sistema de autoridade
escalonada no qual qualquer pessoa da equipe dirigente tem o direito de impor
disciplina a qualquer dos novatos, o que aumenta claramente a possibilidade de
sanção:
Todos os cantos e recantos de nossas vidas
eram minuciosamente controlados para prevenir qualquer espécie de reflexão ou
de vida pessoal e para garantir que nunca ficássemos sozinhos. Éramos divididos
em grupos de seis a oito pessoas de nacionalidade mista (a língua comum era o
italiano) alojados em pequenos chalés pré-fabricados ou nos alojamentos da
fazenda convertidos em apartamentos. Os espaços onde passávamos a maior parte
do tempo eram supercongestionados, impedindo assim qualquer tipo de
privacidade, embora o "pudor" no momento de vestir-se e das abluções
fosse observado com extremo rigor (URQUHART, 2002, p.61).
Como podemos perceber, a
tarefa da equipe dirigente do movimento é receber os novatos e aplicar-lhes uma
série de procedimentos que visam seu controle e modelagem subjetiva. De acordo
com Goffman (1987, p.24) podemos denominá-los de processos de mortificação do
eu, que costumam ser padronizados e incluir os seguintes aspectos:
enclaustramento/sequestração do indivíduo; processos de admissão que criam uma
pasta pessoal que é continuamente alimentada com relatórios sobre o desempenho
do internado; testes de obediência para conseguir a cooperação inicial do
novato; despojamento dos bens, emprego e carreira; exposições contaminadoras
físicas, sociais e psicológicas; o "circuito" (GOFFMAN, 1987, p.40) que
interliga todas as esferas da vida do internado no contexto institucional,
utilizando um comportamento qualquer como índice do estado geral da sua
condição pessoal; o sistema de privilégios (GOFFMAN, 1987, p.49), por meio do
qual se manipulam arbitrariamente algumas necessidades e satisfações do
indivíduo, utilizando-as como prêmios concedidos em troca de obediência.
O
século XVI foi marcado, por profundas modificações relacionadas ao aspecto
religioso. O estopim da Reforma Luterana foi devido à venda de indulgências
pelo papado, a fim de concluir a construção da Basílica de São Pedro, a atitude
de Lutero desencadeou uma reação em cadeia favorável tanto dentro quanto fora
da Igreja, pois desde os tempos de Wycliffe e Huss, a nobreza, as populações
europeias e parte do clero estavam descontentes com os desmandos existentes na
Igreja; o movimento da Reforma resultou de uma multiplicidade de fatores. O
fortalecimento das monarquias, e resultante contraposição à autoridade
universal do papado, constituíram um desses fatores, particularmente importante
na formação da Igreja Anglicana, na Inglaterra; o calvinismo recusou o
livre-arbítrio e defendeu a predestinação dos “eleitos” e “condenados”, assim
como legitimou todo o trabalho, desde que honesto, e a riqueza material como
sinal da graça divina sobre o indivíduo; a Contra - Reforma se constituiu num
conjunto de medidas que visava à reafirmação de seus dogmas, de sua disciplina
e o combate à Reforma Protestante.
A crise moral vivida pela Igreja Católica e os interesses
políticos dos príncipes alemães foram fatores que concorreram para a Reforma
Protestante. Os conflitos religiosos na Europa e o expansionismo colonialista
concorreram para a expansão do cristianismo em termos mundiais. O calvinismo
refletiu a convergência entre sociedade comercial ascendente e fé cristã. Parte
do pensamento político defendido pelo Iluminismo fundamenta-se no princípio de
que a relação entre os interesses individuais e os coletivos deve-se orientar
para a preservação do bem comum. O Estado organizado existe para garantir os
direitos daqueles que controlam a maioria dos bens adquiridos das propriedades
de terra e dos meios de produção. Os laços que garantem o equilíbrio da
sociedade devem estar necessariamente articulados à concordância de todos os
seus membros e essa concordância permite que a justiça seja exercida igualmente
para todos. A Revolução Puritana (1640) e a Revolução Gloriosa (1688)
transformaram a Inglaterra do século XVIII, envolveram conflitos religiosos que
juntamente com as disputas políticas e sociais, desembocaram em violentas
disputas posteriormente pacificadas com a instituição da liberdade de culto
para os protestantes.
O Renascimento foi um importante
movimento de ordem artística, cultural e científica que se deflagrou na
passagem da Idade Média para a Moderna. Em um quadro de sensíveis
transformações que não mais correspondiam ao conjunto de valores apregoados
pelo pensamento medieval, o renascimento apresentou um novo conjunto de temas e
interesses aos meios científicos e culturais de sua época. Ao contrário do que
possa parecer, o renascimento não pode ser visto como uma radical ruptura com o
mundo medieval.
A razão, de acordo com o pensamento
da Renascença, era uma manifestação do espírito humano que colocava o indivíduo
mais próximo de Deus. Ao exercer sua capacidade de questionar o mundo, o homem
simplesmente dava vazão a um dom concedido por Deus (neoplatonismo). Outro
aspecto fundamental das obras renascentistas era o privilégio dado às ações
humanas, ou humanismo. Tal característica representava-se na reprodução de
situações do cotidiano e na rigorosa reprodução dos traços e formas humanas
(naturalismo). Esse aspecto humanista inspirava-se em outro ponto - chave do
Renascimento: o elogio às concepções artísticas da Antiguidade Clássica.
O movimento conhecido como Iluminismo (ou Ilustração) foi
um influente processo cultural, social, filosófico e político que tem suas
origens ainda no século XVII, por esse motivo, os anos 1700 são qualificados
como o “Século das Luzes”. O diferencial do Iluminismo em relação aos demais
movimentos do período, contudo, estava em sua abordagem estrita da razão,
principalmente em relação ao viés científico, numa linha de pensamento que
poderia ser aplicada tanto a filósofos e intelectuais quanto a matemáticos e
físicos. Com o passar as décadas, cresceu a ideia de que o mesmo método poderia
ser utilizado com sucesso em outras áreas da vida, levando ao progresso e à
felicidade; assim, em breve a própria política se apropriaria da ideia da razão
como a mais benéfica para a sociedade em geral, em contraponto à mera
autoridade e à estratificação.
A difusão paulatina dos ideais iluministas de valorização da
razão e da liberdade acabou por divulgar os novos ideais filosóficos liberais
centrados no indivíduo. Nada surpreendente, então, que o Iluminismo fosse
ferrenhamente contrário aos dogmas religiosos e políticos em geral; de maneira
inevitável, o pensamento iluminista se colocaria contra as tiranias
monárquicas, vistas como governos que usurpavam direitos que, naturalmente,
pertenciam ao povo.
No início deste século, Emst Troeltsch sustentou que a
Reforma, em suas tendências seminais, pertencia a cosmovisão “autoritarista” da
Idade Média. A ruptura para os tempos modernos não ocorreu no século XVI, com a
Reforma, mas no XVIII, com o Iluminismo.
Embora as abordagens anteriores à história da Reforma
forneçam discernimentos valiosos para a compreensão de um período tão complexo,
devemos reconhecer que a Reforma foi essencialmente um evento religioso, seus
mais profundos interesses, teológicos.
O Protestantismo nasceu da luta pela doutrina da justificação
pela fé somente. Para Lutero, essa não era simplesmente uma doutrina entre
outras, mas o resumo de toda doutrina
cristã, o artigo pelo qual a igreja se mantém ou cai. Como Lutero chegou a essa
doutrina e por que a considerou tão vital? Lutero perto do fim de sua vida,
deixou a resposta para essa pergunta em Romanos 1:17,
comecei a
entender que a Justiça de Deus significava aquela justiça pela qual o homem
justo vive, mediante o dom de Deus, isto é, pela fé. É isso o que significa a
Justiça de Deus é revelada pelo Evangelho, uma justiça passiva com a qual o
Deus misericordioso nos justifica pela fé, como está escrito: “Aquele que pela
fé e justo viverá”. Aqui, senti que estava nascendo completamente de novo e
havia entrado no próprio paraíso de portões abertos.
O entendimento
da justificação que dominou tanto a teologia patrística quanto a medieval
derivou, em parte do casamento entre a doutrina cristã e a filosofia
grega. O que Lutero realmente fez, o que
foi chamado a fazer, foi ouvir a Palavra. A Palavra tem por natureza ser
ouvida. Lutero também disse, “se você perguntar a um cristão qual é a sua
tarefa e por que ele é digno do nome cristão, não pode haver nenhuma outra
resposta senão que ele ouve a Palavra de Deus, isto é, a fé”.
Nessa breve
análise sobre definições e periodizações da Reforma, passamos da norma
teológica que julgava os movimentos do século XVI em relação a Lutero (direita
– catolicismo; esquerda – radicais) à história social. Esse último e recente
desenvolvimento historiográfico não conflita, necessariamente, com abordagens
anteriores de historiadores intelectuais interessados em biografias e em
teologia:
Em vez disso, reivindica que
mudanças religiosas do século XVI foram fundamentalmente importantes para
forjar a história da Europa e do restante do mundo até o período moderno,
definindo, como território de exploração, a área em que ideias e rituais
religiosos afetavam as estruturas da vida cotidiana. (HSIA, 1988, p.8).
Assistência aos
pobres no fim do período medieval foi marcada por conflitos entre leigos
habitantes de centros urbanos e o clero sobre a administração de verbas,
propriedades e instituições destinadas à prática, porém atreladas à Igreja. O
debate contencioso “não era entre Estado e igreja quanto à caridade, mas entre
assistência pública ou privada, centralizada ou descentralizada” (JÜTTE, 1994,
p. 105). A luta para se racionalizar e centralizar o sistema de bem-estar
social no início do período moderno, colocando-o nas mãos de órgãos públicos,
recebeu, a partir da Reforma, novo modelo de articulação e legitimação.
Do ponto de vista do homem comum, argumentos e reivindicações
da Reforma tinham clara relevância econômica, social e política. Preocupações
do homem comum estavam ligadas aos argumentos e elementos da
Reforma de modo inconfundível. BLICKLE (1981, p. 156) ressalta que auxílio
econômico, justiça, ordem jurídica e ordem política eram inseparáveis de bem
comum, amor fraternal e confiança comunitária.
Protestantismo e catolicismo racionalistas e presos a um credo
contribuíram politicamente para o desenvolvimento e a
consolidação dos primórdios do Estado moderno e à sua concomitante imposição de
disciplina social. Intelectualmente, contribuíram ao racionalismo, deísmo e
devocionismo que alimentou o Iluminismo dos séculos XVIII e XIX.
As reformas
trouxeram à cultura ocidental o problema do pluralismo – religioso, social e
cultural. Uma vez que o mundo moderno ainda luta com esse legado em salas de
aula e tribunais, ruas e campos de batalha, não é de surpreender que as pessoas
do século XVI tenham achado extremamente difícil viver com deveres alternativos
e rivais, exacerbados pelo medo universal de anarquia e desordem social
(Ozment, 1985, p. 22–7). A primeira resposta de todos os grupos foi compelir a
conformidade. Contudo, convicções religiosas não são facilmente demovidas por
lei ou pelo uso da força. Em alguns casos, o triunfalismo protestante contribuiu
para o desenvolvimento da síndrome da “nação eleita”, a tolerância religiosa
tornou-se o caminho para a paz social e eventual secularização da sociedade.
A relação entre
Reforma e modernidade é considerada um assunto controverso e tem levantado diversas
questões no que diz respeito à interpretação de ambos os períodos.
Historiadores, críticos da hegemonia passada de intepretações intelectuais e
teológicas, rejeitam reivindicações simplistas acerca do patrimônio da Reforma
no período moderno. A Reforma deve ser entendida por si só, não (mal) usada com
o objetivo de especulação contemporânea, histórica e religiosa. Essa é uma
advertência importante contra interpretações liberais da Reforma, que a veem
como a iniciação de um progresso inevitável em direção ao triunfo da verdade:
A Reforma continua, em
primeira instância, a ser um movimento contextualizado na história; seu
relacionamento com a modernidade é enganoso. Historiadores precisam de mais
modéstia (NIPPERDEY, 1987, p. 539).
Conhecer a contribuição das reformas
para o desenvolvimento do nosso mundo nos ajuda a entender como chegamos até
aqui e nos dá um horizonte crítico pelo qual conseguimos avaliar os resultados.
Conclui-se que é importante reavivar valores, necessário compreender
o ser humano de uma maneira mais ampla e importante para distinguir a dimensão
sagrada e sublime da vida, porém, a reflexão e argumentação, precisam estar
presentes no indivíduo. De acordo com Corrêa (2008) constata-se que o ser humano
é, a cada instante, a visibilidade do que ama, busca e se propõe alcançar. Mais
do que o sensorial, o intuitivo, o afetivo ou o racional, o religioso é capaz
de conduzir o ser humano à excelência no modo de ser, de relacionar-se com seus
semelhantes, com a criação e com o Transcendente.
Pode-se
concluir que a Religião não faz bem, quando o indivíduo é minuciosamente
controlado para prevenir qualquer espécie de reflexão ou de vida pessoal, e
quando é aplicado uma série de procedimentos que visam seu controle e modelagem
subjetiva. Este e-book contribui com a descoberta
perene de quem somos e de como nos entendemos de maneira global. A história nos oferece um horizonte com o qual vemos o resultado
de uma vida sem reflexão.
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