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ENTENDENDO QUANDO A TEOLOGIA SE TORNA EM FANATISMO

 


ENTENDENDO QUANDO A TEOLOGIA SE TORNA EM FANATISMO

 

SILVA, Elisete Aparecida da[1]

RESUMO

A problemática da moral faz parte da vida cotidiana desde o nascimento. O primeiro conceito moral com o qual a pessoa tem contato, ainda na infância, advém do uso da palavra não. Ao ter de lidar com a negação a criança passa a formular conceitos e padrões de conduta que podem ou não ser praticados no dia a dia, nesse contexto a Teologia apresenta os diferentes modelos de reflexão da moral e examina os aspectos fortes e os aspectos frágeis de cada um deles. O objetivo deste e-book é identificar quando a religião faz mal para a pessoa, analisando o relatório de um jovem e sua devoção religiosa. O desenvolvimento da pesquisa referente a este artigo acontece a partir do viés qualitativo. Para sua realização, foram consultadas referências bibliográficas da área da Religião e a Metodologia do Trabalho Científico. Conclui-se, que existe um certo nível de reciprocidade e mutualidade entre religião e cultura, por meio do qual se manipulam arbitrariamente algumas necessidades e satisfações do indivíduo, utilizando-as como prêmios concedidos em troca de obediência. Porém, podemos afirmar com segurança que a descoberta de Lutero da justificação pela fé ocorreu, por exemplo, sob condições individuais, contextualizadas em sua história, cultura e língua – sem, ao mesmo tempo, estar confinada a essas condições, e no contexto do jovem não é viável ter uma atitude de fanatismo, anulando-se a si próprio.

 

Palavras - chave: Teologia. Reflexão. Fanatismo.

 

INTRODUÇÃO

 

As tradições religiosas ou religiões, como sistemas organizados a partir de uma estrutura hierárquica, conjunto de doutrinas, ritos, símbolos e normas éticas, podem ser dogmáticas, mas também abertas e flexíveis. Sua função básica, pelo menos no plano ideal, é contribuir para um processo civilizador da humanidade, orientar as pessoas em busca e relação com o sagrado, dar respostas às questões existenciais e sustentação à existência da comunidade por meio de preceitos éticos.

O sistema ético do absolutismo conflitante parte da premissa de que neste mundo os problemas e os sofrimentos são reais e, portanto, os conflitos morais são reais. Mesmo assim, o ser humano é responsável pelos deveres de ambos ou mais princípios morais em conflito. Não importa que certos princípios morais estejam em conflito, o ser humano terá de fazer algo a respeito dos dois, pois a lei divina não pode ser quebrada sem que haja culpa.

O absolutismo conflitante não é próprio apenas do cristianismo evangélico moderno. O existencialismo (o ser humano precisa decidir sua vida e não depende de nada e de ninguém para isso) e mesmo o pensamento popular também esboçam atitudes de absolutismo conflitante em suas éticas. Quem já não ouviu ou proferiu a frase? “Por fim, optei pelo mal menor”.

Martinho Lutero (1483-1546) defendia a postura do absolutismo conflitante. Baseado no que ele denominou doutrina da depravação (o ser humano tem a tendência intrínseca para o mal), o reformador ensinava que o homem vive em dois reinos simultaneamente: o reino deste mundo e o Reino de Deus. Enquanto vive em ambos, é responsável pelo cumprimento das leis dos dois mundos. E como esses reinos estão em perpétuo conflito, também o ser humano viverá assim. Portanto, este se chocará constantemente com princípios conflitantes e com a obrigação de cumprir ao mesmo tempo as normas de ambos os mundos, o profano e o sagrado. Quando tais princípios em conflito levam ao pecado, é necessário recorrer sempre à expiação na cruz de Cristo para obter o perdão.

A partir do relato de Urquhart (2002), vejamos o que é um jovem que vive no estabelecimento formativo Focolare. Trata-se de um indivíduo que se sente chamado a consagrar a sua vida a Deus, como leigo participante de um grupo eclesial específico e que deve se preparar para assumir essa condição. O centro Focolare de Loppiano, Itália, é o local onde essa preparação é efetuada. O candidato se transforma em habitante de um mundo especial e peculiar, onde não apenas recebe uma formação específica, mas também assume uma condição humana muito particular: a de um indivíduo internado.

Na sua condição de internado, mesmo voluntário, o novato do grupo Focolare partilha de condições similares, sob vários aspectos, às dos internados num hospital psiquiátrico, numa prisão ou num colégio interno. A dinâmica da vida institucional nesses estabelecimentos apresenta pontos de impressionante coincidência. Será necessário ressaltar oportunamente suas diferenças também. O próprio internato Focolare pode ser visto como um colégio interno (BENELLI, 2002, 2003a, 2003b), mas com objetivos mais específicos.

O movimento Focolare tem uma escola que recebe novatos já iniciados e que aderiram ao grupo em Loppiano, próximo a Florença, na Itália. Podemos dizer que ali os noviços (novatos) do movimento realizam seu noviciado (período preparatório à consagração religiosa, que culmina na emissão de votos religiosos e integração a determinada instituição religiosa). Trata-se de uma aldeia modelo do Focolare. Depois de dois anos ali, um novo membro permanente devidamente preparado e qualificado, por meio de uma consagração religiosa ao assumir os votos de pobreza, castidade e obediência, pode ser enviado para qualquer parte do mundo para missionar e difundir o movimento. Essa experiência e a profissão dos três votos normalmente significam a inserção permanente do indivíduo no grupo religioso. Mas no caso das instituições com características totalitárias esse processo de inserção parece estar longe de ser linear e pacífico.

    A ideia de dedicar minha vida a Deus, trabalhando para Ele, me enchia de uma espécie de alegria e de sensação de aventura. Mas eu finalmente tinha perdido meu senso de orientação e também o controle de minha vida. Não era capaz de compreender ou analisar o que acontecera comigo em Loppiano, e só muito mais tarde iria conseguir: eu era a própria aniquilação e absorção de uma personalidade individual pela instituição. Quando começou esse terrível e deliberado processo de destruição, eu me senti mergulhar inexoravelmente no período mais negro de toda a minha vida (URQUHART, 2002).

O isolamento destaca-se como um elemento fundamental do processo formativo. Loppiano era utilizado para isolar totalmente os recrutas iniciados das influências do mundo exterior, para serem mais bem observados e modelados de acordo com as crenças, ideias, normas, hábitos e comportamentos prescritos pelo movimento.

    O isolamento era total. Nós estávamos a cerca de uma milha da civilização. A população local era constituída de velhos camponeses analfabetos. Durante os dois anos que ali passamos, não assistimos a um programa de televisão sequer, nunca deitamos os olhos sobre um jornal. Desse modo, não sabíamos praticamente nada do que estava acontecendo no mundo lá fora, e, após algum tempo, isso parecia não ter a menor importância. ... Não havia livros, a não ser os escritos de Chiara Lubich e alguns outros sobre espiritualidade, publicados pela Città Nuova, a editora italiana do movimento. De qualquer modo, a leitura era desaprovada. Considerava-se estranho que alguém pudesse passar o tempo fazendo qualquer coisa sozinho, mas especialmente lendo. Durante todo o tempo que lá fiquei, li apenas dois livros (URQUHART, 2002).

Não havia rádio, televisão, filmes nem música "profanos", nem dias de folga ou sequer dinheiro para distrair ou contaminar os focolares em formação. Eram raras as saídas de Loppiano. O corte era radical para melhor efetivar o processo de ressocialização. Todos os anos havia a admissão de uns cinqüenta homens e mulheres, que eram segregados, mantidos à distância uns dos outros. Esses futuros líderes do movimento vinham de todos os países do mundo. A maioria deles tinha apenas uma idéia muito vaga do que se podia esperar - Loppiano não tinha nenhum documento escrito sobre as atividades do movimento (URQUHART, 2002).

    O isolamento era para garantir que cada canto de nossas vidas estivesse sob completo controle de nossos superiores. Nossas mentes, atitudes e crenças tinham que ser radicalmente mudadas não através de um processo de aprendizado gradual ou do crescimento progressivo de uma convicção pessoal, mas através de um fluxo contínuo de uma torrente de conceitos e noções ao qual nós nos referíamos frequentemente, de brincadeira, como sendo uma verdadeira lavagem cerebral (URQUHART, 2002).

A tendência anti-intelectual (LIBÂNIO, 2003, p.106) do movimento se manifestava agressivamente em Loppiano. Candidatos de notória orientação ou formação intelectual eram sempre destinados para a realização de trabalho braçal e servil.

A tendência anti-intelectual (LIBÂNIO, 2003, p.106) do movimento se manifestava agressivamente em Loppiano. Candidatos de notória orientação ou formação intelectual eram sempre destinados para a realização de trabalho braçal e servil.

    Mas o ataque à razão era levado a extremos: eles nos impunham uma condenação total do pensamento. "Vocês pensam demais", era a resposta que recebíamos quando fazíamos perguntas. "Não pensem!", diziam-nos duramente nossos líderes. "Parem de raciocinar." Ou, de maneira mais radical ainda: "Corte sua cabeça fora." Quando alguém levantava algum problema a respeito do gênero de vida ou das ideias com que eles nos bombardeavam, recebia logo como resposta que "era um ser fechado", "complicado", "um criador de problemas para si próprio" ou mesmo "vítima de algum complexo". O termo "mentalidade" era um dos motes, e aqueles que não estavam de acordo com o movimento eram acusados de ter uma mentalidade "velha". Eles nos aconselhavam a não tentar entender, mas a agir como eles mandavam, para "nos lançarmos para dentro da vida" em Loppiano, que a compreensão viria depois (sic) (Urquhart, 2002, p.61).

Em Loppiano, o trabalho era exclusivamente manual. Os noviços trabalhavam em uma fábrica de caminhões ou em empresas menores que fabricavam tapetes e artesanato em madeira. Os noviços também tinham que participar de campanhas para vender de porta em porta a revista do movimento (URQUHART, 2002, p.64). Havia um controle exaustivo de todas as atividades e da rotina de cada um, caracterizando intenso processo de arregimentação (GOFFMAN, 1987, p.44), que indica a obrigação de executar a atividade regulada em uníssono com grupos de outros recrutas; e ainda um sistema de autoridade escalonada no qual qualquer pessoa da equipe dirigente tem o direito de impor disciplina a qualquer dos novatos, o que aumenta claramente a possibilidade de sanção:

    Todos os cantos e recantos de nossas vidas eram minuciosamente controlados para prevenir qualquer espécie de reflexão ou de vida pessoal e para garantir que nunca ficássemos sozinhos. Éramos divididos em grupos de seis a oito pessoas de nacionalidade mista (a língua comum era o italiano) alojados em pequenos chalés pré-fabricados ou nos alojamentos da fazenda convertidos em apartamentos. Os espaços onde passávamos a maior parte do tempo eram supercongestionados, impedindo assim qualquer tipo de privacidade, embora o "pudor" no momento de vestir-se e das abluções fosse observado com extremo rigor (URQUHART, 2002, p.61).

Como podemos perceber, a tarefa da equipe dirigente do movimento é receber os novatos e aplicar-lhes uma série de procedimentos que visam seu controle e modelagem subjetiva. De acordo com Goffman (1987, p.24) podemos denominá-los de processos de mortificação do eu, que costumam ser padronizados e incluir os seguintes aspectos: enclaustramento/sequestração do indivíduo; processos de admissão que criam uma pasta pessoal que é continuamente alimentada com relatórios sobre o desempenho do internado; testes de obediência para conseguir a cooperação inicial do novato; despojamento dos bens, emprego e carreira; exposições contaminadoras físicas, sociais e psicológicas; o "circuito" (GOFFMAN, 1987, p.40) que interliga todas as esferas da vida do internado no contexto institucional, utilizando um comportamento qualquer como índice do estado geral da sua condição pessoal; o sistema de privilégios (GOFFMAN, 1987, p.49), por meio do qual se manipulam arbitrariamente algumas necessidades e satisfações do indivíduo, utilizando-as como prêmios concedidos em troca de obediência.

ASPECTO RELIGIOSO

            O século XVI foi marcado, por profundas modificações relacionadas ao aspecto religioso. O estopim da Reforma Luterana foi devido à venda de indulgências pelo papado, a fim de concluir a construção da Basílica de São Pedro, a atitude de Lutero desencadeou uma reação em cadeia favorável tanto dentro quanto fora da Igreja, pois desde os tempos de Wycliffe e Huss, a nobreza, as populações europeias e parte do clero estavam descontentes com os desmandos existentes na Igreja; o movimento da Reforma resultou de uma multiplicidade de fatores. O fortalecimento das monarquias, e resultante contraposição à autoridade universal do papado, constituíram um desses fatores, particularmente importante na formação da Igreja Anglicana, na Inglaterra; o calvinismo recusou o livre-arbítrio e defendeu a predestinação dos “eleitos” e “condenados”, assim como legitimou todo o trabalho, desde que honesto, e a riqueza material como sinal da graça divina sobre o indivíduo; a Contra - Reforma se constituiu num conjunto de medidas que visava à reafirmação de seus dogmas, de sua disciplina e o combate à Reforma Protestante.

A crise moral vivida pela Igreja Católica e os interesses políticos dos príncipes alemães foram fatores que concorreram para a Reforma Protestante. Os conflitos religiosos na Europa e o expansionismo colonialista concorreram para a expansão do cristianismo em termos mundiais. O calvinismo refletiu a convergência entre sociedade comercial ascendente e fé cristã. Parte do pensamento político defendido pelo Iluminismo fundamenta-se no princípio de que a relação entre os interesses individuais e os coletivos deve-se orientar para a preservação do bem comum. O Estado organizado existe para garantir os direitos daqueles que controlam a maioria dos bens adquiridos das propriedades de terra e dos meios de produção. Os laços que garantem o equilíbrio da sociedade devem estar necessariamente articulados à concordância de todos os seus membros e essa concordância permite que a justiça seja exercida igualmente para todos. A Revolução Puritana (1640) e a Revolução Gloriosa (1688) transformaram a Inglaterra do século XVIII, envolveram conflitos religiosos que juntamente com as disputas políticas e sociais, desembocaram em violentas disputas posteriormente pacificadas com a instituição da liberdade de culto para os protestantes.

            O Renascimento foi um importante movimento de ordem artística, cultural e científica que se deflagrou na passagem da Idade Média para a Moderna. Em um quadro de sensíveis transformações que não mais correspondiam ao conjunto de valores apregoados pelo pensamento medieval, o renascimento apresentou um novo conjunto de temas e interesses aos meios científicos e culturais de sua época. Ao contrário do que possa parecer, o renascimento não pode ser visto como uma radical ruptura com o mundo medieval.

            A razão, de acordo com o pensamento da Renascença, era uma manifestação do espírito humano que colocava o indivíduo mais próximo de Deus. Ao exercer sua capacidade de questionar o mundo, o homem simplesmente dava vazão a um dom concedido por Deus (neoplatonismo). Outro aspecto fundamental das obras renascentistas era o privilégio dado às ações humanas, ou humanismo. Tal característica representava-se na reprodução de situações do cotidiano e na rigorosa reprodução dos traços e formas humanas (naturalismo). Esse aspecto humanista inspirava-se em outro ponto - chave do Renascimento: o elogio às concepções artísticas da Antiguidade Clássica.

            O movimento conhecido como Iluminismo (ou Ilustração) foi um influente processo cultural, social, filosófico e político que tem suas origens ainda no século XVII, por esse motivo, os anos 1700 são qualificados como o “Século das Luzes”. O diferencial do Iluminismo em relação aos demais movimentos do período, contudo, estava em sua abordagem estrita da razão, principalmente em relação ao viés científico, numa linha de pensamento que poderia ser aplicada tanto a filósofos e intelectuais quanto a matemáticos e físicos. Com o passar as décadas, cresceu a ideia de que o mesmo método poderia ser utilizado com sucesso em outras áreas da vida, levando ao progresso e à felicidade; assim, em breve a própria política se apropriaria da ideia da razão como a mais benéfica para a sociedade em geral, em contraponto à mera autoridade e à estratificação.

A difusão paulatina dos ideais iluministas de valorização da razão e da liberdade acabou por divulgar os novos ideais filosóficos liberais centrados no indivíduo. Nada surpreendente, então, que o Iluminismo fosse ferrenhamente contrário aos dogmas religiosos e políticos em geral; de maneira inevitável, o pensamento iluminista se colocaria contra as tiranias monárquicas, vistas como governos que usurpavam direitos que, naturalmente, pertenciam ao povo. 

No início deste século, Emst Troeltsch sustentou que a Reforma, em suas tendências seminais, pertencia a cosmovisão “autoritarista” da Idade Média. A ruptura para os tempos modernos não ocorreu no século XVI, com a Reforma, mas no XVIII, com o Iluminismo.

Embora as abordagens anteriores à história da Reforma forneçam discernimentos valiosos para a compreensão de um período tão complexo, devemos reconhecer que a Reforma foi essencialmente um evento religioso, seus mais profundos interesses, teológicos.

O Protestantismo nasceu da luta pela doutrina da justificação pela fé somente. Para Lutero, essa não era simplesmente uma doutrina entre outras, mas     o resumo de toda doutrina cristã, o artigo pelo qual a igreja se mantém ou cai. Como Lutero chegou a essa doutrina e por que a considerou tão vital? Lutero perto do fim de sua vida, deixou a resposta para essa pergunta em Romanos 1:17,

comecei a entender que a Justiça de Deus significava aquela justiça pela qual o homem justo vive, mediante o dom de Deus, isto é, pela fé. É isso o que significa a Justiça de Deus é revelada pelo Evangelho, uma justiça passiva com a qual o Deus misericordioso nos justifica pela fé, como está escrito: “Aquele que pela fé e justo viverá”. Aqui, senti que estava nascendo completamente de novo e havia entrado no próprio paraíso de portões abertos.

O entendimento da justificação que dominou tanto a teologia patrística quanto a medieval derivou, em parte do casamento entre a doutrina cristã e a filosofia grega.  O que Lutero realmente fez, o que foi chamado a fazer, foi ouvir a Palavra. A Palavra tem por natureza ser ouvida. Lutero também disse, “se você perguntar a um cristão qual é a sua tarefa e por que ele é digno do nome cristão, não pode haver nenhuma outra resposta senão que ele ouve a Palavra de Deus, isto é, a fé”.

Nessa breve análise sobre definições e periodizações da Reforma, passamos da norma teológica que julgava os movimentos do século XVI em relação a Lutero (direita – catolicismo; esquerda – radicais) à história social. Esse último e recente desenvolvimento historiográfico não conflita, necessariamente, com abordagens anteriores de historiadores intelectuais interessados em biografias e em teologia:

Em vez disso, reivindica que mudanças religiosas do século XVI foram fundamentalmente importantes para forjar a história da Europa e do restante do mundo até o período moderno, definindo, como território de exploração, a área em que ideias e rituais religiosos afetavam as estruturas da vida cotidiana. (HSIA, 1988, p.8).

 

Assistência aos pobres no fim do período medieval foi marcada por conflitos entre leigos habitantes de centros urbanos e o clero sobre a administração de verbas, propriedades e instituições destinadas à prática, porém atreladas à Igreja. O debate contencioso “não era entre Estado e igreja quanto à caridade, mas entre assistência pública ou privada, centralizada ou descentralizada” (JÜTTE, 1994, p. 105). A luta para se racionalizar e centralizar o sistema de bem-estar social no início do período moderno, colocando-o nas mãos de órgãos públicos, recebeu, a partir da Reforma, novo modelo de articulação e legitimação.

Do ponto de vista do homem comum, argumentos e reivindicações da Reforma tinham clara relevância econômica, social e política. Preocupações do homem comum estavam ligadas aos argumentos e elementos da Reforma de modo inconfundível. BLICKLE (1981, p. 156) ressalta que auxílio econômico, justiça, ordem jurídica e ordem política eram inseparáveis de bem comum, amor fraternal e confiança comunitária.

Protestantismo e catolicismo racionalistas e presos a um credo contribuíram politicamente para o desenvolvimento e a consolidação dos primórdios do Estado moderno e à sua concomitante imposição de disciplina social. Intelectualmente, contribuíram ao racionalismo, deísmo e devocionismo que alimentou o Iluminismo dos séculos XVIII e XIX.

As reformas trouxeram à cultura ocidental o problema do pluralismo – religioso, social e cultural. Uma vez que o mundo moderno ainda luta com esse legado em salas de aula e tribunais, ruas e campos de batalha, não é de surpreender que as pessoas do século XVI tenham achado extremamente difícil viver com deveres alternativos e rivais, exacerbados pelo medo universal de anarquia e desordem social (Ozment, 1985, p. 22–7). A primeira resposta de todos os grupos foi compelir a conformidade. Contudo, convicções religiosas não são facilmente demovidas por lei ou pelo uso da força. Em alguns casos, o triunfalismo protestante contribuiu para o desenvolvimento da síndrome da “nação eleita”, a tolerância religiosa tornou-se o caminho para a paz social e eventual secularização da sociedade.        

A relação entre Reforma e modernidade é considerada um assunto controverso e tem levantado diversas questões no que diz respeito à interpretação de ambos os períodos. Historiadores, críticos da hegemonia passada de intepretações intelectuais e teológicas, rejeitam reivindicações simplistas acerca do patrimônio da Reforma no período moderno. A Reforma deve ser entendida por si só, não (mal) usada com o objetivo de especulação contemporânea, histórica e religiosa. Essa é uma advertência importante contra interpretações liberais da Reforma, que a veem como a iniciação de um progresso inevitável em direção ao triunfo da verdade:

A Reforma continua, em primeira instância, a ser um movimento contextualizado na história; seu relacionamento com a modernidade é enganoso. Historiadores precisam de mais modéstia (NIPPERDEY, 1987, p. 539).          

 

            Conhecer a contribuição das reformas para o desenvolvimento do nosso mundo nos ajuda a entender como chegamos até aqui e nos dá um horizonte crítico pelo qual conseguimos avaliar os resultados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que é importante reavivar valores, necessário compreender o ser humano de uma maneira mais ampla e importante para distinguir a dimensão sagrada e sublime da vida, porém, a reflexão e argumentação, precisam estar presentes no indivíduo. De acordo com Corrêa (2008) constata-se que o ser humano é, a cada instante, a visibilidade do que ama, busca e se propõe alcançar. Mais do que o sensorial, o intuitivo, o afetivo ou o racional, o religioso é capaz de conduzir o ser humano à excelência no modo de ser, de relacionar-se com seus semelhantes, com a criação e com o Transcendente.

Pode-se concluir que a Religião não faz bem, quando o indivíduo é minuciosamente controlado para prevenir qualquer espécie de reflexão ou de vida pessoal, e quando é aplicado uma série de procedimentos que visam seu controle e modelagem subjetiva. Este e-book contribui com a descoberta perene de quem somos e de como nos entendemos de maneira global. A história nos oferece um horizonte com o qual vemos o resultado de uma vida sem reflexão.

REFERÊNCIAS

 

 

ASSINTEC. Disponível em <http://www.assintec.org/contribuicao-do-lideres-religiosos > (Acesso em 15/12/2024).

 

BENELLI, Sílvio José;  COSTA-ROSA, Abílio da. Movimentos religiosos totalitários católicos: efeitos em termos de produção de subjetividade. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2006, vol.23, n.4, pp.339-358. ISSN 0103-166X.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2006000400003.

 

BRASILESCOLA. Disponível                                < https://brasilescola.uol.com.br/historiag/renascimento.htm > (Acesso em 15/12/2024).

 

ENSINO RELIGIOSO. Disponível<http://jottaclub.com/wp-content/uploads/2015/03/ENSINO-RELIGIOSO-1.pdf >(Acesso em 15/12/2024)

 

FERREIRA, Paulo. A Reforma em Quatro Tempos. Rio de Janeiro: CPAD, 2017. 1.ed.

 

FRIESEN, Albert. Teologia moral: ética cristã. Curitiba. Intersaberes, 2015.

 

GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. Tradução Gérson Dudus e Valéria Fontana. São Paulo: Vida Nova, 1993.

 

INFOESCOLA. Disponível em < https://www.infoescola.com/historia/iluminismo (Acesso em 15/12/2024).

 

LINDBERG, Carter. História da Reforma. Tradução Elissamai Bauleo.Thomas Nelson, Brasil. Rio de Janeiro, 2017.

 

PROTESTANTISMO. Disponível em <http://www.dw.com/pt-br/como-o-protestantismo-conquistou-o-mundo/g-41049503> (Acesso em 15/12/2024)

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 21 Edição Revista e Ampliada – e-book digitalizado.

SINAIS DA HISTÓRIA. Disponível em <http://sinaisdahistoria.blogspot.com.br/2014/08/questoes-sobre-reforma-religiosa.html (Acesso em 15/12/2024).




[1] E-mail: pesquisadoracientifica.edu@gmail.com



Comentários

Este conteúdo é para você!!!!!

Mindset, palavra com tradução livre do inglês, que significa configuração da mente!!

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